a quem por ti pergunta digo sempre 
que habitas nos caminhos que vão dar 
a todas as perguntas que fazemos 
depois de termos morrido muitas vezes 
e sem que percebam dou-te o nome 
mais perfeito que há na terra 
para dar a quem vai desaparecer 
eu sei que já é tarde que sempre foi tarde 
mesmo quando ainda era muito cedo 
mas também sei que não há mais nada para lá 
dos secretos recantos das histórias que nos pertencem 
e abro a janela de todos os meus sentidos 
deixando que tudo o que era teu desapareça contigo 
entre os murmúrios das horas que já nem recordam 
o caminho de regresso ao sobressalto da tua voz 
quando no parapeito das madrugadas 
lentamente morríamos de frente para o sol 
e não vale a pena tentar voltar ao princípio 
porque a memória se encarregou de demarcar 
o novo território dos teus passos 
e qualquer outra estrada seria um outro deserto 
onde nem sequer seríamos capazes de descobrir 
o cheiro de águas perdidas 
por isso vai sendo tempo de escrever nas dunas 
a rota de todos os tesouros que perdemos 
para que outros cheguem e digam foi então 
aqui que tudo começou 
vai sendo tempo de convocarmos os amigos 
para que as suas mãos curem as chagas 
de precipitadas despedidas 
vai sendo tempo de voltares para casa 
e de entre nós baixar um deus que finalmente 
saiba destinar a cada um 
o amor que lhe compete.
(Alice Vieira, Pelas Mãos e Pelos Olhos Eu Juro)
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