domingo, 23 de janeiro de 2011

Estásimo IV

Que homem, sim, que homem
da ventura mais possui
do que a aparência de a ter,
e, uma vez tida, de cair no ocaso?



(Sófocles, Rei Édipo, Maria do Céu Zambujo Fialho (trad.))

Sirvo para que as coisas se vejam

Esta manhã é igual ao princípio do mundo e aqui eu venho ver o que jamais se viu.
O meu olhar tornou-se liso como um vidro. Sirvo para que as coisas se vejam.



(Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto)

Arte de inventar personagens



Pomo-nos bem de pé, com os braços muito abertos
e olhos fitos na linha do horizonte
Depois chamamo-los docemente pelos seus nomes
e os personagens aparecem




(Mário Cesariny, Manual de Prestidigitação)



I N S Ó N I A

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Édipo cego

MENSAGEIRO

Em breves palavras to digo e o saberás: morreu a nobre Jocasta.

CORO

Infeliz rainha! Qual foi a causa?

MENSAGEIRO

Ela, por suas mãos. Mas, dos factos, o mais doloroso escapa-te; é que tu não presenciaste esses horrores. No entanto, no que a memória me assistir, far-te-ei conhecer os sofrimentos daquela desventurada.
Pois quando ela, desesperada, atravessou o vestíbulo, caminhou a direito para o leito nupcial. E arrancava os cabelos com ambas as mãos; as portas, ao entrar, fecha-as nas suas costas com violência. Chama por Laio já de há muito falecido, recorda o filho que tivera outrora, às mãos de quem morreu e que a ela deixou como genitora da raça maldita de seus próprios filhos. E gemia, a desgraçada, pelo tálamo, onde concebera uma dupla geração, um esposo de outro esposo e filhos de seus filhos. Como, depois disto, ela morreu, não sei. De súbito, bradando, irrompeu Édipo; por isso não foi possível presenciar toda a desgraça da rainha - antes seguíamos com os olhos os seus passos. Corre então de um para o outro, pedindo que alguém lhe desse uma espada, perguntando onde poderia encontrar a esposa que não era esposa, o seio duas vezes materno: para si mesmo e para seus filhos. Desvairado, uma divindade lho indica; não foi nenhum dos homens, dos que estávamos nas proximidades. E num terrível grito, como que guiado por alguém, contra os dois batentes se lançou. Do seu encaixe faz ceder os ferrolhos encurvados e lança-se na alcova. Vemos, então, a esposa suspensa do nó corredio de uma corda que a estrangula. Ele, então, assim que a vê, lança um brando aflitivo, o infeliz, e desce-a da corda suspensa. E quando em terra a depõe o desgraçado, terrível foi de ver o que então sucedeu. É que, depois de arrancar das vestes dela as fíbulas de ouro com que se ornava, ergue-as ao alto e fere com elas os seus olhos, soltando clamores como estes: que assim não iriam contemplar nem os males que sofrera nem aqueles que causara e que as trevas doravante os impediam de ver quem não deviam e de conhecer quem desejavam.
Tais palavras clamando, sem cessar - e não apenas uma vez - com as fíbulas dilacerava os olhos. A cada golpe, o sangue das suas pupilas banhava-lhe o queixo - não em lágrimas gotejantes, mas escorrendo em negra chuva de granizo sangrento.
Estes infortúnios tiveram uma origem dupla - não foi apenas um que os provocou; são males comuns ao marido e à mulher.
A antiga prosperidade de outrora era então verdadeira prosperidade. Agora, neste dia, é gemido, ruína, morte, opróbrio: de quantos nomes a desgraça tiver, nenhum está ausente.


(Sófocles, Rei Édipo, Maria do Céu Zambujo Fialho (trad.))

O corpo morreu-lhe

Assim infantil e inofensivo, megalómano e humilde, solitário e esquecido, passa nas trevas da loucura mais de metade da sua longa vida. O corpo morreu-lhe em 7 de Junho de 1843.





(Hölderlin, Poemas, Pedro Quintela (trad.))

Lamentos de Ménon por Diotima

Todos os dias saio, sempre à busca de outro caminho,
Há muito interroguei já todos os da terra;
Além os cimos frescos, todas as sombras visito
E as fontes; erra o espírito pra cima e pra baixo,
Pedindo sossego; assim foge o bicho f'rido pra os bosques,
Mas o seu leito verde já lhe não restaura o coração,
Lamentoso e sem sono o aguilhoa por toda a parte o espinho.
Nem do calor da luz nem do fresco da noite vem ajuda,
E em vão banha as f'ridas nas ondas do rio.
E assim como debalde a terra lhe oferece a erva alegre
Que o cure, e nenhum dos zéfiros acalma o sangue a ferver,
Assim, queridos! assim a mim também, parece, e ninguém
Poderá tirar-me da fronte o sonho triste?


(Hölderlin, Poemas, Paulo Quintela (trad.))

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Morto vivo!



«Todos os dias tenho que invocar de novo a divindade desaparecida. Quando penso em grandes homens, em tempos grandes, e como eles, fogo sagrado, alastravam à sua volta e transformavam em chama tudo o que era morte, seco, a palha do mundo que com eles subia ao céu: e penso então em mim, franca candeia de pouco brilho, a andar por aí com desejos de pedir a esmola de uma gota de azeite para poder alumiar mais um bocado da noite - então repassa-me os membros um calafrio estranho, e digo baixo a mim próprio as palavras horríveis: Morto vivo!»

(Hölderlin, Poemas, Pedro Quintela (trad.))

Ressurreição


«Quando eu era ainda moço, poucos sabiam de Hölderlin senão que fora louco e que «mesmo na loucura escrevera ainda alguma coisa». As obras estavam esgotadas, mas quem as procurasse no alfarrabista arranjava por pouco dinheiro a primeira e única edição: pois ninguém de preocupava com elas. Mas quando a gente abria o livro e deparava com «Patmos» entre as «poesias do período da loucura» e ia compondo, verso a verso, o poema desconhecido e esquecido, que ressurreição de gigante se não sentia no próprio peito!»

(Carta de Hugo von Hofmannsthal a Ruth Sieber-Rilke, de 7 de Abril de 1927)



(Hölderlin, Poemas, Paulo Quintela (trad.))

Hyperion



  «Por toda a parte nos resta ainda uma alegria.
A dor pura entusiasma. Quem sobe sobre a própria
miséria, está mais alto. E é magnífico saber que só na
dor sentimos bem a liberdade da alma.»



(Hölderlin, Hyperion)

Nirvana estereofónico

Cada vez são mais os que crêem menos
Nas coisas que preencheram as nossas vidas,
Os mais altos, os incontestáveis valores de Platão ou Goethe,
O verbo, a pomba sobre a arca da História,
A sobrevivência da obra, a descendência e as heranças.

Nem por isso caem do céu do neófito
Na ciência que expõe máquinas na lua;
Na verdade, tanto faz que o doutor Barnard
Faça transplantes do coração
Era preferível mil vezes que a felicidade de cada um
Fosse o exacto, o necessário reflexo da vida
Até que o coração insubstituível pudesse dizer simplesmente basta.

Cada vez são mais os que crêem menos
Na utilização do humanismo
Para o nirvana estereofónico
De mandarins e estetas.

Sem que isto queira significar
Que quando houver um instante de inspiração
Não se leia Rilke, Verlaine ou Platão,
Ou se escute os nítidos clarins,
Ou se vislumbre os trémulos anjos
De Angélico.


(Julio Cortázar, Rosa dos Mundos, Jorge Henrique Bastos (trad.))

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Destruir-te.

anoto estas coisas vagarosamente, escrevo o menos possível, quase não 
gesticulo, mexo-me o absolutamente necessário. é preciso chegar ao zero ao 
silêncio e a mobilidade. 
escrever no limite do dia, preparar-me para a noite, despertar em mim um 
nome, inventar-te. 
tecer uma intriga e devorar-te, mentir-te, mentir-te uma vez mais


(Al Berto)


Delete.

Sublinho

fiquei definitivamente adulto, cansado pelos dias que me obrigo a viver




(Al Berto)




De quem percebe de destruições. 

Os poetas estão a avançar com uns vagares de galinholas

O que não significa vai significar um dia destes. Mas significará uma coisa bastante diferente. Pensam que uma escada leva sempre a certa espécie de casa ou terraço, e são magnânimos admitindo alguma variação de formas e propósitos dentro dos termos das casas e terraços que há. Pois estão à vossa espera, senhores, casas e terraços que há. Pois estão à vossa espera, senhores, casas e terraços de estranhos sistemas arquitectónicos. Há mesmo a suspeita de tratar-se de uma escada esquisita, uma escada apenas para subir.
Mas dantes havia moral, dizem eles. Havia a moral de subir para ir ao terraço. Depois via-se a paisagem.
E era bonito?
Sim, havia metafísica, política e filosofia para ver.
E para que servia isso?
Ora, a gente ficava contente, porque entravam e saíam ideias pela cabeça.
Uma espécie de piquenique mental, não?
A metafísica, a política, a filosofia são matérias nobres.
Sim, senhores, obrigado.
Pois, e se a gente queria a casa, subia a escada e entrava na casa.
Também nas paredes, a filosofia, e etc.?
Sim, exactamente.
Olhem: não obrigado. Vou dizer-lhes: vai ser escada para subir e depois a gente ficará lá em cima a experimentar o transe do silêncio. Os senhores não percebem nada de destruições. Temos de aturar todo o aborrecimento de uma velha modernidade: Fernandos Pessoas, surrealismos, a política com metonímias, a filosofia rítmica, as religiosidades héréticas, as pequenas tradições de certas liberdades.
Acabou-se.
(O verbo impregnava a terra, a energia impregnava a terra).
Tudo isto é uma grande máquina circulatória, o aparelho digestivo, o sistema respiratório. Coisas do corpo que precisa de transe, êxtase. Essa é a significação. Estamos a trabalhar com instrumentos que abalam tudo. Há uma energia geral comutada à passagem pelo corpo. É uma comutação cultural. E afastem daqui o surrealismo. Afastem a metafísica, a política, as ideiazinhas de merda. Um transe. A palavra é uma provocação destinada a uma espécie de intransigência física. E que é o corpo senão ele mesmo?
Os poetas estão a avançar com uns vagares de galinholas.
Porra.


(Herberto Helder)


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Perfections

Only themselves understand themselves and like of
themselves,
As souls only understant souls.




(beloved Walt Whitman, The Complete Poems)

sábado, 15 de janeiro de 2011

No allegories, no metaphors, no symbols, nothing…

To You

Stranger, if you passing meet me and desire to speak to me,
  why should you not speak to me?
And why should I not speak to you?




(Walt Whitman, The Complete Poems)


Eu penso exactamente o mesmo. Ponto. (Estive ocupada, contínuo ocupada. Creio que isso não seja do interesse de ninguém.)

O Me! O Life!

O me! O life! of the questions of these recurring,
Of the endless trains of the faithless, of cities fill'd with the
foolish,
Of myself forever reproaching myself, (for who more
foolish than I, and who more faithless?)
Of eyes that vainly crave the light, of the objects mean, of
the struggle ever renew'd,
Of the poor results of all, of the plodding and sordid
crowds I see around me,
Of the empty and useless years of the rest, with the rest me
intertwined,
The question, O me! so sad, recurring - What good amid
these, O me, O life?

Answer
That you are here - that life exists and identity,
That the powerful play goes on, and you may
contribute a verse.


(Walt Whitman, The Complete Poems)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Dilema nocturno #7

Na parede há um buraco branco, o espelho. É uma ratoeira. Sei que vou lá cair. Já está. A coisa cinzenta acabou de surgir no espelho. Aproximo-me e olho para ela; já não posso desviar-me.
É o reflexo da minha cara. Muitas vezes, nestes dias perdidos fico a contemplá-lo. Não percebo nada desta cara. As dos outros têm um sentido. A minha, não. Nem posso decidir se é bonita ou feia. Acho que é feia, porque mo disseram. Mas não é propriedade que me salte à vista. A bem dizer, até me surpreende que se lhe possam atribuir qualidades desse género, como se se chamasse bonito ou feio a um bocado de terra ou a um bocado de rocha.
(...)
O meu olhar desce lentamente, com enfado, por esta testa, por estas faces: não encontra nada de firme, afoga-se. Evidentemente, aquilo é um nariz, aquilo são uns olhos, aquilo uma boca, mas nada disso tem sentido, nem sequer expressão humana. Todavia, Anny e Vélines achavam que eu tinha um ar de vivacidade; devo estar habituado de mais à minha cara. A minha tia Bigeois dizia-me, quando eu era pequeno: «Se olhares muito tempo para o espelho, acabas por ver um macaco». Olhei muito, muito tempo, com certeza: o que lá vejo está muito abaixo do macaco, na fronteira do mundo vegetal, ao nível dos pólipos. Tem vida, não digo que não; mas não é nessa vida que Anny pensava: noto na imagem do espelho uns leves estremeções, vejo uma carne desenxabida que se distende e palpita com abandono. Os olhos, principalmente, de tão perto, são horríveis. São uma coisa vítrea, mole, cega, orlada de vermelho; parecem escamas de peixe.
Amparo-me, com todo o meu peso, à moldura de faiança, aproximo a minha cara do espelho até lhe tocar. Os olhos, o nariz e a boca desaparecem: já nada resta de humano. Rugas escuras de ambos os lados do inchaço febril dos lábios, gretas, montícudas bochechas; dois pelos saem das narinas: é uma carta geológica em relevo. E, apesar de tudo, este mundo lunar é-me familiar. Não posso dizer que lhe reconheça os pormenores. Mas o conjunto produz-me uma impressão de coisa já vista que me entorpece: resvalo lentamente para o sono.
Tento reagir: uma sensação viva e brusca libertar-me-ia. Espalmo a mão esquerda na face, puxo pela pele; desenha-se no espelho uma careta. Uma metade inteira do meu rosto cede, o lado esquerdo da boca torce-se e incha, destapando um dente, a órbita ensanguentada. Não é o que eu procurava: nada de forte, nada de olhos abertos; já a cara cresce, cresce no espelho, torna-se um imenso halo pálido a boiar na luz....

(Jean-Paul Sartre, A Náusea)


Não necessariamente um dilema. Uma insónia, sim. Um dia perdido como o de hoje merece este livro.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Song of myself

(...)

I resist anything better than my own diversity,
And breath the air and leave plenty after me,
And am not stuck up, and am in my place.

The moth and the fisheggs are in their place,
The suns I see and the suns I cannot see are in their place,
The palpable is in its place and the impalpable is in its place.

These are the thoughts of all men in all ages and lands, they
are not original with me,
If they are not yours as much as mine they are nothing or
next to nothing,
If they do not enclose everything they are next to nothing,
If they are not the riddle and the untying of the riddle they
are nothing.

This is the grass that grows wherever the land is and the
water is,
This is the common air that bathes the globe.

This is the breath of laws and songs and behaviour,
This is the tasteless water of souls....this is the true
sustenance,
It is for the illiterate....it is for the judges of the supreme
court....it is for the federal capitol and the state
capitols,
It is for the admirable communes of literary men and
composers and singers and lecturers and engineers and
savans.
It is for the endless races of working people and farmers and
seamen.

This is the trill of a thousand clear cornets and scream of the
octave flute and stike of triangles.

I play not a march for victors only...I play great marches
for conquered and slain persons.

Have you heard that it was good to gain the day?
I also say it is good to fall....battles are lost in the same
spirit in which they are won.
(...)

(beloved Walt Whitman, The Complete Poems)


Atravessou-se-me à frente, este livro. Um Penguin Classics com as folhas amareladas e um cheiro inebriante. Tenho tantas outras coisas para ler, estudar, escrever, enfim, coisas.  Entre esta culpa e satisfação, trouxe-o comigo para casa.

domingo, 9 de janeiro de 2011

The Look



Strephon kissed me in the spring,
Robin in the fall,
But Colin only looked at me
And never kissed at all.

Strephon's kiss was lost in jest,
Robin's lost in play,
But the kiss in Colin's eyes
Haunts me night and day.



(Sara Teasdale)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Perfeitamente

"Na riqueza e na pobreza, no melhor e no pior, até que a morte vos separe."

Perfeitamente.

Sempre cumpri o que assinei.

Portanto estrangulei-a e fui-me embora.



(Mário-Henrique Leiria, Casamento)

Miopia

Estendeu os braços carinhosamente e avançou, de mãos abertas e cheias de ternura.
- És tu Ernesto, meu amor?
Não era. Era o Bernardo.
Isso não os impediu de terem muitos meninos e não serem felizes.
É o que faz a miopia.


(Mário-Henrique Leiria, Noivado)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

(I think I made you up inside my head.)

I shut my eyes and all the world drops dead;
I lift my lids and all is born again.
(I think I made you up inside my head.)

The stars go waltzing out in blue and red,
And arbitrary blackness gallops in:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I dreamed that you bewitched me into bed
And sung me moon-struck, kissed me quite insane.
(I think I made you up inside my head.)

God topples from the sky, hell's fires fade:
Exit seraphim and Satan's men:
I shut my eyes and all the world drops dead.

I fancied you'd return the way you said,
But I grow old and I forget your name.
(I think I made you up inside my head.)

I should have loved a thunderbird instead;
At least when spring comes they roar back again.
I shut my eyes and all the world drops dead.
(I think I made you up inside my head.)

(Sylvia Plath, Mad Girl's Love Song)

Sabes bem que não vou dizer nada sobre ti, nem sobre o poema. Hoje foi um dia mau e estou cansada.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

123 - 4

4

Adília
memorabilia

Combray
Penamacor

Cortam-me
ou esticam-me
braços
e pernas
conforme
a cama
(a cama
é a medida)

A medida porém
é a Senhora da Aparecida

Também eu
fui Procrustes
tive
duas camas
os outros as outras
nunca
estavam
certos

Errei (pequei)
estou arrependida
(antes não fodida
que mal fodida)


(Adília Lopes, A Selva)


Paguei 20 euros e 50 cêntimos de multa na biblioteca. - E porquê? Confundi a data de entrega de 6 livros. É caso para estar estupidamente aborrecida comigo e ainda mais com estas pessoas que deviam cobrar multas  a quem não  lê.


Bof!

Danse Russe

If I when my wife is sleeping
and the baby and Kathleen
are sleeping
and the sun is a flame-white disc
in silken mists
above shining trees,—
if I in my north room
dance naked, grotesquely
before my mirror
waving my shirt round my head
and singing softly to myself:
"I am lonely, lonely.
I was born to be lonely,
I am best so!"
If I admire my arms, my face,
my shoulders, flanks, buttocks
against the yellow drawn shades,—

Who shall say I am not
the happy genius of my household?


(William Carlos Williams)


domingo, 2 de janeiro de 2011

Hitting the ground and breaking

Adília

1

Adília
chora
como
uma Madalena

                                                                                           2

                                                                                           Adília
                                                                                           lê
                                                                                           treslê
                                                                                           a Bíblia

3

Adília
a idiota
da família
afoga-se
em chá de tília



(Adília Lopes, A Selva)

sábado, 1 de janeiro de 2011

A kind of maze


INTERVIEWER

Readers very often call your stories parables. Do you like that description?

BORGES

No, no. They're not meant to be parables. I mean if they are parables . . . [long pause] . . . that is, if they are parables, they have happened to be parables, but my intention has never been to write parables.

INTERVIEWER

Not like Kafka's parables, then?

BORGES

In the case of Kafka, we know very little. We only know that he was very dissatisfied with his own work. Of course, when he told his friend Max Brod that he wanted his manuscripts to be burned, as Virgil did, I suppose he knew that his friend wouldn't do that. If a man wants to destroy his own work, he throws it into a fire, and there it goes. When he tells a close friend of his, “I want all the manuscripts to be destroyed,” he knows that the friend will never do that, and the friend knows that he knows and that he knows that the other knows that he knows and so on and so forth.

INTERVIEWER

It's all very Jamesian.

BORGES

Yes, of course. I think that the whole world of Kafka is to be found in a far more complex way in the stories of Henry James. I think that they both thought of the world as being at the same time complex and meaningless.

INTERVIEWER

Meaningless?

BORGES

Don't you think so?

INTERVIEWER

No, I don't really think so. In the case of James . . .

BORGES

But in the case of James, yes. In the case of James, yes. I don't think he thought the world had any moral purpose. I think he disbelieved in God. In fact, I think there's a letter written to his brother, the psychologist William James, wherein he says that the world is a diamond museum, let's say a collection of oddities, no? I suppose he meant that. Now in the case of Kafka, I think Kafka was looking for something.

INTERVIEWER

For some meaning?

BORGES

For some meaning, yes; and not finding it, perhaps. But I think that they both lived in a kind of maze, no?


(o resto aqui)

Aconselha-se a entrevista de Huxley, também - e as outras todinhas, que isto é uma perdição.

Lenços e mais lenços.

Lugar

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.



(Herberto Helder, Poesia toda)

Happy new year, Norma

(Billy Wilder,Sunset Boulevard,1950)

A caminho do segundo pacote de lenços e com uma constipação extraordinária. Espectacular este começo de ano, portanto.