segunda-feira, 18 de abril de 2011

Viver com semelhantes homens



Tenho tanta fome, durmo sob a canícula das provas. Viajei até à exaustão, a fronte sob o enxugadouro nodoso. Para que o mal jamais se reacenda, sufoquei os seus compromissos. Apaguei o seu emblema da inépcia da minha roda de proa. Retorqui às pancadas. Matava-se de tão perto que o mundo se quis melhor. Brumário da minha alma jamais escalada, quem abre fogo no curral deserto? Já não é a vontade elíptica da escrupulosa solidão. Dupla asa dos gritos de um milhão de crimes erguendo-se repentinamente aos olhos outrora negligentes, mostrai-nos os vossos desígnios e essa vasta abdicação do remorso!

Mostra-te; nós nunca nos sentíamos satisfeitos com o sublime bem-estar das andorinhas muito magras. Ávidos de se aproximarem do amplo alívio. Incertos no tempo que o amor aumentava. Incertos, só eles, no cume do coração.
Tenho tanta fome.

(René Char, Furor e Mistério, Margarida Vale de Gato (trad.))

Sem comentários:

Enviar um comentário