domingo, 19 de junho de 2011

La Passion de Jeanne d'Arc


«O mais curioso é, talvez, que muitas das crises emocionais da infância ou da adolescência de Mishima têm origem numa dessas imagens de livros ou de filmes ocidentais a que foi exposto o jovem japonês nascido em Tóquio em 1925. O rapazinho que repudiou uma bela imagem do seu livro ilustrado, porque a criada lhe explicou que se tratava, não de um cavaleiro como ele pensava, mas de uma mulher chamada Joana d'Arc e sentiu esse engano como um logro que o ofendia na sua pueril masculinidade. E, neste caso, o mais interessante para nós é que tenha sido Joana d'Arc quem lhe inspirou esta reacção e não uma das numerosas heroínas do Kabuki disfarçadas de homem. Em contrapartida, na famosa cena da primeira ejaculação diante de uma fotografia de São Sebastião de Guido Reni, compreende-se tanto melhor a sua excitação pela pintura barroca italiana quanto a arte japonesa, nem sequer nas suas gravuras eróticas conheceu, como a nossa, a glorificação do nu. Nenhuma imagem de samurai oferecido à morte lhe poderia dar a mesma impressão desse corpo musculado mas exausto, prostrado no abandono quase voluptuoso da morte (os heróis do antigo Japão amavam e morriam envoltos na carapaça de seda e aço).»


(Marguerite Yourcenar, Mishima ou a visão do vazio, surripiado d'O café dos loucos)

Não se esquecem as lágrimas de Maria Falconetti. E é-me impossível não lembrar Mishima. E, agora, junta-se-lhes Marguerite Yourcenar.

Isto para concluir que o dia foi um caos, que estou cansada e que não me apetece dormir. E acho que é desnecessário referir que as imagens são do La Passion de Jeanne d'Arc, que por sua vez foi realizado por Carl Theodor Dreyer e que data de 1928.

Desnecessário, como havia dito.


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