segunda-feira, 4 de junho de 2012

23 anos


23 anos passaram desde o Massacre de Tian'an men. Sente-se o medo no ar, o número de palavras proíbidas no Weibo (Twitter chinês) ascende a quase trinta, há mais polícia na rua, ninguém discute sobre o assunto, ninguém pode sequer prestar respeito aos estudantes.  O controlo feito nas últimas semanas a estrangeiros é inaceitável, todos, sem igual, são tratados como ilegais. Há duas semanas vieram a minha casa verificar o meu passaporte, nunca me senti tão mal, nunca me senti como se fosse uma criminosa. Sou só uma estudante aqui e percebo a necessidade de controlarem o número de imigrantes ilegais, mas não vejo a necessidade de criar sentimenos racistas entre a população. Tenho apelidado este governo de ditadura, porque se o silêncio que se sente só pode ser fruto de uma ditadura do medo. Os jovens têm conhecimento da data, não gostam do governo, mas também não estão de todo descontentes com ele. É-lhes indiferente. E eu, tentando estar tão ou mais indiferente do que eles, porque no fundo os meus pais temem que eu fale, que eu critique, que eu discorde, não consigo evitar escrever sobre a data de hoje, de assinalar que há 23 anos ocorreu uma massacre. Ninguém sabe o nome do homem que teve o acto estóico de fazer parar os tanques e é, porventura, é talvez a imagem mais marcante de todas. Hoje, no mesmo lugar, o transito segue normalmente. Está calor em Pequim, não vou apanhar a linha um do metro e visitar a Praça, fi-lo uma vez, o retrato grande de Mao Zedong permanece no centro, há camaras de video-vigilância quase de dois em dois metros, a policia está em todo o lado, é preciso passar os nossos pertences por um scanner. Nunca me tinhas questionado sobre a minha estadia aqui. Sinto-me independente, tenho bons amigos. Mas, há duas semanas, pela primeira vez, questionei-me se estar aqui é correcto. E lembrei-me do sentimento de estar naquele lugar. Náusea, foi uma espécie de náusea. Foi a primeira e última vez que visitei aquele lugar. Não falo, escrevo.

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