coro dos maus oficiais de serviço
na corte de epaminondas, imperador
Vá
uma morte loura
simpática
acolhedora
que não dê muito que falar
mas que também não gere
um silêncio excessivo
vá
uma morte boa
a uma boa hora
uma morte ginasta tradutora
relativamente compensadora
uma morte pedal espinha de bicicleta quase carapau
com quatro a cinco soltas a dizer
que se ele não tivesse ido embora
tão jovem tão salino
boas probabilidades haveria de ter
de vir a ser
dos melhores poetas pós-fernandino
vá lá vá lá Mário
uma morte
naniôra
que não deixe o esqueleto de fora como nos casos do mau gosto
os esqueletos têm sempre um quê de arrependidos
se bem que por aí já convinha lá isso já também era verdade
vá
o demais demora
e
francamente
nunca será teu
vá vá vamos embora
custava-te menos agora
e ainda ias para o céu
(Mário Cesariny, in Manual de Prestidigitação)
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sábado, 15 de outubro de 2011
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Autografia, 88 anos e o início de tudo
sou um homem
um poeta
uma máquina de passar vidro colorido
um copo uma pedra
uma pedra configurada
um avião que sobe levando-te nos seus braços
que atravessam agora o último glaciar da terra
o meu nome está farto de ser escrito na lista dos tiranos: condenado
à morte!
os dias e as noites deste século têm gritado tanto no meu peito que
existe nele uma árvore miraculada
tenho um pé que já deu a volta ao mundo
e a família na rua
um é loiro
outro moreno
e nunca se encontrarão
conheço a tua voz como os meus dedos
( antes de conhecer-te já eu te ia beijar a tua casa )
tenho um sol sobre a pleura
e toda a água do mar à minha espera
quando amo imito o movimento das marés
e os assassínios mais vulgares do ano
sou, por fora de mim, a minha gabardina
e eu o pico Everest
posso ser visto à noite na companhia de gente altamente suspeita
e nunca de dia a teus pés florindo a tua boca
porque tu és o dia porque tu és
a terra onde eu há milhares de anos vivo a parábola
do rei morto, do vento e da primavera
Quanto ao de toda a gente - tenho visto qualquer coisa
Viagens a Paris - já se arranjaram algumas.
Enlaces e divórcios de ocasião - não foram poucos.
Conversas com meteoros internacionais - também, já por cá
passaram.
Eu sou, no sentido mais enérgico da palavra
uma carruagem de propulsão por hálito
os amigos que tive as mulheres que assombrei as ruas por onde
passei uma só vez
tudo isso vive em mim para uma história
de sentido ainda oculto
magnifica irreal
como uma povoação abandonada aos lobos
lapidar e seca
como uma linha-férrea ultrajada pelo tempo
é por isso que eu trago um certo peso extinto
nas costas
a servir de combustível
e é por isso que eu acho que as paisagens ainda hão-de vir a ser
escrupulosamente electrocutadas vivas
para não termos de atirá-las semi-mortas à linha
E para dizer-te tudo
dir-te-ei que aos meus vinte e cinco anos de existência solar estou
em franca ascensão para ti O Magnifico
na cama no espaço duma pedra em Lisboa-Os-Sustos
e que o homem-expedição de que não há notícias nos jornais
nem
lágrimas à porta das famílias
sou eu meu bem sou eu
partido de manhã encontrado perdido entre
lagos de incêndio e o teu retrato grande!
um poeta
uma máquina de passar vidro colorido
um copo uma pedra
uma pedra configurada
um avião que sobe levando-te nos seus braços
que atravessam agora o último glaciar da terra
o meu nome está farto de ser escrito na lista dos tiranos: condenado
à morte!
os dias e as noites deste século têm gritado tanto no meu peito que
existe nele uma árvore miraculada
tenho um pé que já deu a volta ao mundo
e a família na rua
um é loiro
outro moreno
e nunca se encontrarão
conheço a tua voz como os meus dedos
( antes de conhecer-te já eu te ia beijar a tua casa )
tenho um sol sobre a pleura
e toda a água do mar à minha espera
quando amo imito o movimento das marés
e os assassínios mais vulgares do ano
sou, por fora de mim, a minha gabardina
e eu o pico Everest
posso ser visto à noite na companhia de gente altamente suspeita
e nunca de dia a teus pés florindo a tua boca
porque tu és o dia porque tu és
a terra onde eu há milhares de anos vivo a parábola
do rei morto, do vento e da primavera
Quanto ao de toda a gente - tenho visto qualquer coisa
Viagens a Paris - já se arranjaram algumas.
Enlaces e divórcios de ocasião - não foram poucos.
Conversas com meteoros internacionais - também, já por cá
passaram.
Eu sou, no sentido mais enérgico da palavra
uma carruagem de propulsão por hálito
os amigos que tive as mulheres que assombrei as ruas por onde
passei uma só vez
tudo isso vive em mim para uma história
de sentido ainda oculto
magnifica irreal
como uma povoação abandonada aos lobos
lapidar e seca
como uma linha-férrea ultrajada pelo tempo
é por isso que eu trago um certo peso extinto
nas costas
a servir de combustível
e é por isso que eu acho que as paisagens ainda hão-de vir a ser
escrupulosamente electrocutadas vivas
para não termos de atirá-las semi-mortas à linha
E para dizer-te tudo
dir-te-ei que aos meus vinte e cinco anos de existência solar estou
em franca ascensão para ti O Magnifico
na cama no espaço duma pedra em Lisboa-Os-Sustos
e que o homem-expedição de que não há notícias nos jornais
nem
lágrimas à porta das famílias
sou eu meu bem sou eu
partido de manhã encontrado perdido entre
lagos de incêndio e o teu retrato grande!
(Mário Cesariny, "Autografia", Pena Capital)
Mestre três vezes, amado três vezes. Gostava de ter palavras para lhe dar, de lhe dizer que me deu nome. Mas pareço sempre tonta quando falo do poeta. Quando lhe falo do capitulo da devolução, da tristeza e dos poemas que sei de cor. Os amores não se dizem, existem. Por isso, ninguém melhor para o dizer do que o seu próprio poema.
Cesariny
A 10.000 metros de profundidade
o rosto deambulador
do soldado
que não quis morrer
grita o seu radioso segredo:
Abre as portas do teu coração
é tão fácil perder
o homem das águias
que nunca mudam
Ele
em verdade
está só
e nunca
foi ouvido
(Mário Cesariny, "II", Pena Capital)
Parabéns, Sr. Poeta.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
de profundis amamus
(...)
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
(Mário Cesariny, Pena Capital)
Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso
(Mário Cesariny, Pena Capital)
quinta-feira, 28 de julho de 2011
antero
se conseguires meter 3 balas na cabeça encontrarás
a síntese que procuras
«o amigo de antero», (inédito)
a primeira bala na cabeça: a Tese
a segunda na garganta: a Antítese
a terrível determinação de extermínio
não conseguiu inteira a cessação imediata da vida
fero só contra a Ideia, e Voz que a moldava
agonizou realmente como um Santo
(ganhando o que era, aos poucos)
enquanto a Caixa de Pensar saía
de mistura com a Lógica e um pêlo de poeta
que caiu no parterre e encaracolou
liberto de Proudhon Hegel e Kant
«Deixá-la VIR, a Vida...»
(Mário Cesariny, primavera autónoma das estradas)
sexta-feira, 15 de julho de 2011
domingo, 10 de julho de 2011
Poème
- Não chores homem não chores
que te vão envergonhar
Água que sai dos teus olhos
ninguém na pode apagar
(Mário Cesariny, Pena Capital)
segunda-feira, 27 de junho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
Acto Primeiro
AGRIFONTE
Dizia, amigo Hamlet, que os mortos estão como estamos nós: Também os vivos pouco diferem um dos outros e apenas se distinguem os que demonstram como um teorema. Mas, dizei: que é feito de Margarida?
HAMLET
Margarida? Que Margarida? A que se praz em tíbios prados ou a que infausta e abaritonada se desvaneceu nos teus braços?
AGRIFONTE
A que me ofereceu esta cigarreira. (Oferece um cigarro) Por bem, aceitai, fumai....
HAMLET
Muito obrigado.
AGRIFONTE
Plo Deus vivo, não o acendeis, ou sabereis quem eu sou.
HAMLET
Oh, Ontem mesmo vosso tio telegrafou dizendo-me que espécie de indivíduo sois.
AGRIFONTE
(Estranhando) Tio? Que tio? Tenho sete.
HAMLET
O oitavo, o mais documentado, o que bem a seu pesar não pôde dar-vos o ser.
AGRIFONTE
Plo Santo Nome, senhor, dizei então quem é o filho da mãe!
HAMLET
Pois aí vai, ainda que vos pese. Sois Dona Iracunda de Álvaro Meno mãe putativa da que em outros tempos conheceu diástoles incríveis.
AGRIFONTE
(Rebarbativo) Deixai vossos provérbios para depois e contemplai a vossa obra. (Hamlet olha na direcção apontada. Um espantoso quadro se lhe insinua. Num confortável ataúde jaz Mitríades decomposto e episcopal.)
MITRÍADES
(Encorporando-se) Oh, Hamlet! Oh, Agrifonte! Não mais vereis Margarida!
HAMLET E AGRIFONTE
Que dizeis, insensato, em tão horrenda putrefacção?
MITRÍADES
Margarida foi ao campo das interrogações. Quem ousa ir ao campo das interrogações nunca mais volta.
HAMLET E AGRIFONTE
Ah, fideputa velhaco! Vós também amais Margarida.
MITRÍADES
Eu? Não odeio nem amo. Mas ela será minha esposa entre as aladas sombras.
Hamlet e Agrifonte ardem em maquilhada ira.
Um sol vindicativo dardeja mil raios no horizonte.
As sombras dos três personagens
aparecem obstinadas e aplanadas
no deserto.
HAMLET E AGRIFONTE
Rufia, canalha, putrefacto, já vais ver!
Os dois açulam as suas sombras com à lebreus.
Estas, grandes aranhas negras, avançam até ao
féretro de Mitríades.
MITRÍADES
Ah! Já me vencestes. Éreis o meu único adversário. Mas temei a sombra da minha sombra. A morte é mais ligeira que o sono.
As sombras dos três lutam metafisicamente
açuladas pelos respectivos amos.
A de Agrifonte fez presa
no pescoço da de Mitríades.
Mentres, a de Hamlet ladra à lua, afugentando-a.
Um furacão impiedoso leva as três sombras,
que desaparecem gesticulando no horizonte.
Mitríades morre definitivamente
entre torpes mecanismos.
AGRIFONTE
E agora, já sem sombras, sejamos francos, Hamlet: vós também amais Margarida.
HAMLET
Nem pensar.
AGRIFONTE
Pois, por que se bateu vossa sombra contra o nosso pobre e chorado Mitríades?
HAMLET
(Deziotisticamente) Plo amor. Em geral.
AGRIFONTE
Agora percebo tudo. (Com forte acento estrangeiro) Hamlet, prepara-te; vou contar tudo à tua mamã!
HAMLET
Conta, conta. Mentres, vou para o barroco cavalinho de cartão.
Agrifonte sai a jogar ao arco.
A mãe de Agrifonte incrustada na parede derrama
uma longínqua lágrima.
Quatro donzelas inclinam-se chorando
sobre o cadáver de Mitríades para levá-lo depois
pelo revolto caule do dia.
(Hamlet - Tragédia Cómica, Luis Buñuel (Mário Cesariny (trad.))
quarta-feira, 8 de junho de 2011
do capítulo da devolução
Hoje venho dizer-te que morreste e que velo o teu corpo
no meu leito, um corpo estranho e surdo um corpo
incompreensível
aquele desespero que deixou de ter forças para erguer
os portais do outro reino tristeza de menino a quem
tiraram tudo, até a tinta e as flores e o prazer de gritar
esse (foi visto) deve subsistir porque é a tua maneira
de tomar banho no cosmos, olhar o cosmos como os
que ainda podem interrogar as ondas e morrer
mas tu ainda não sabes a que que ponto morreste; vais até
à janela, aspiras com cuidado o oxigénio que o espaço
te oferece, apontas rindo a meiga criatura que pela rua
arrasta a sua condição de animal fulminado
depois olhas para mim, olhas para as tuas mãos, e elas
ambas, tão claras, tão seguras, são as mãos de um
soldado a arder em febre, aves a percorrer o seu novo
deserto
mas tu sabes, tu viste, e mais do que eu; a mão do
homem é doce e iluminada como a noite como um
rasto de fumo sobre os hospitais
tivemos uma história mas a história foi-se, em fileiras
angélicas e gratas, a fazer a manhã de outras paragens;
outra sombra, outros olhos semelhantes
noutro leito nas nuvens deito os teus cabelos, o teu
cansaço e a minha miséria, os teus braços e os meus,
altos como cidades, altos como flores
parou o automóvel, lá em baixo, e eu não tenho mais
que descer as escadas, fechar ainda a porta do teu
quarto, atravessar de um pulo a minha própria vida
agora posso sonhar até deixar de te ver
belo rio sem lágrimas
(Mário Cesariny de Vasconcelos, Pena Capital)
no meu leito, um corpo estranho e surdo um corpo
incompreensível
aquele desespero que deixou de ter forças para erguer
os portais do outro reino tristeza de menino a quem
tiraram tudo, até a tinta e as flores e o prazer de gritar
esse (foi visto) deve subsistir porque é a tua maneira
de tomar banho no cosmos, olhar o cosmos como os
que ainda podem interrogar as ondas e morrer
mas tu ainda não sabes a que que ponto morreste; vais até
à janela, aspiras com cuidado o oxigénio que o espaço
te oferece, apontas rindo a meiga criatura que pela rua
arrasta a sua condição de animal fulminado
depois olhas para mim, olhas para as tuas mãos, e elas
ambas, tão claras, tão seguras, são as mãos de um
soldado a arder em febre, aves a percorrer o seu novo
deserto
mas tu sabes, tu viste, e mais do que eu; a mão do
homem é doce e iluminada como a noite como um
rasto de fumo sobre os hospitais
tivemos uma história mas a história foi-se, em fileiras
angélicas e gratas, a fazer a manhã de outras paragens;
outra sombra, outros olhos semelhantes
noutro leito nas nuvens deito os teus cabelos, o teu
cansaço e a minha miséria, os teus braços e os meus,
altos como cidades, altos como flores
parou o automóvel, lá em baixo, e eu não tenho mais
que descer as escadas, fechar ainda a porta do teu
quarto, atravessar de um pulo a minha própria vida
agora posso sonhar até deixar de te ver
belo rio sem lágrimas
(Mário Cesariny de Vasconcelos, Pena Capital)
sábado, 14 de maio de 2011
Não, não respondeu
Depois vão-se todos embora e eu vou para casa sozinho. Achas graça a isto? Mas isto é o que acontece. Portanto o melhor é não dizer o poema, percebes?
É estar caladinho.
Bom, não sei se respondi. Não respondi, pois não?
domingo, 23 de janeiro de 2011
Arte de inventar personagens
e olhos fitos na linha do horizonte
Depois chamamo-los docemente pelos seus nomes
e os personagens aparecem
(Mário Cesariny, Manual de Prestidigitação)
I N S Ó N I A
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
A mensagem do pássaro-extra-programa
(...)
Agora somos pequenos e inúmeros e percorremos o espaço com gangrenas nas mãos
e intentamos chamadas telefónicas
e marcamos de novo e desligamos depressa
e tu pões a écharpe sobre os ombros
e eu visto o meu casaco e saímos de vez
porque nós somos a multidão a que eu chamo
o homem e a mulher de todos os tempos áridos
e como sempre não há lugar para nós nesta cidade
esta ou outra qualquer que de perto ou de longe a esta se pareça
(Mário Cesariny de Vasconcelos, Pena Capital)
No aqueduto largo do meu peito não há sossego. Convenhamos que devido à miséria deste tempo e à ensombração maligna de certas lágrimas nocturnas. Fico irrequieta. E não durmo.
Mais logo
hei-de estar cansada
de todas as palavras
Agora somos pequenos e inúmeros e percorremos o espaço com gangrenas nas mãos
e intentamos chamadas telefónicas
e marcamos de novo e desligamos depressa
e tu pões a écharpe sobre os ombros
e eu visto o meu casaco e saímos de vez
porque nós somos a multidão a que eu chamo
o homem e a mulher de todos os tempos áridos
e como sempre não há lugar para nós nesta cidade
esta ou outra qualquer que de perto ou de longe a esta se pareça
(Mário Cesariny de Vasconcelos, Pena Capital)
No aqueduto largo do meu peito não há sossego. Convenhamos que devido à miséria deste tempo e à ensombração maligna de certas lágrimas nocturnas. Fico irrequieta. E não durmo.
Mais logo
hei-de estar cansada
de todas as palavras
sábado, 16 de outubro de 2010
E também se pode morrer de falta de amor. Não?
MGM A pergunta era: Porquê a necessidade do outro?
MC Eu sei lá, pergunta ao Jeová.
Não fui eu que criei essa necessidade.
Eu acho que em muitos casos, o outro é o nosso espelho, sem esse espelho não nos vemos. Não existimos. É claro que podes dizer que isto é um bocado abusivo, que eu no espelho não vejo senão a mim, mas não é isso. Eu no espelho ou vejo os dois ou vejo o outro, através de mim. E os seres habituais têm necessidade desse encontro, que não é um espelho mudo, etc.
Não é o Narciso, que esse quer ver-se a si próprio, não! É o que olha para a água e olha para o espelho e vê o outro, ou a outra, com quem pode conversar, viver.
Isto é um bocadinho estúpido também, mas é da sabedoria antiga. (ri)
MGM O Mário acredita que se pode morrer de amor?
MC Até os animais. E talvez sobretudo os animais. Porque talvez não tenham inteligência suficiente para compensar, ir ao cinema para distrair. Mas eu acho que sim, que se pode morrer de amor.
Quer dizer, pronto, dá uma constipação, dá uma coisa qualquer, o senhor morre. O Ernesto Sampaio é um caso desses, quando morreu a Fernanda ele não sabia viver, não sabia. Ele escreveu um livro chamado Fernanda, que eu se fosse a ele nem publicava aquilo, porque é um grito tão horrível, tão forte, que a chamada literatura não aguenta aquilo. Não aguenta!
Não sei se conheces esse livro, é um poema, é uma COISA!
Depois morreu, pronto. Não sabia viver sem a Fernanda, é um caso palpável.
E também se pode morrer de falta de amor. Não?
(Mário Cesariny, Verso de Autografia)
Boa noite.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Autografia
(Autografia, Miguel Gonçalves Mendes)
Gosto do livro.
Amo o poema.
Amo ainda mais o poeta.
Não gosto do filme/documentário (digo, a organização do conteúdo propriamente dito e outros detalhes), mas gosto de ouvir o senhor poeta falar.
Sim, é um grito.
Sim, os poetas fazem miau.
Sabe que, mesmo parado, mesmo não sendo Rimbaud, mesmo tendo o fogo ardido. Mesmo sendo um fantasma coberto de cinzas. Mesmo não tendo já iluminações. Eu acho que ainda pode voar.
Ouvi-lo é já em si poesia.
E acredite, teria o mundo toda a quem escrever.
E eu, não teria jamais a saudade infinita que hoje sinto. Teria, de bom gosto, ido viver consigo e com a Henriette. Que prazer maior se poderia ter nesta vida que não esse?
Há quem me julgue louca. Alguns terão razão, é certo.
Mas loucura maior foi vê-lo perdido neste país-menino, neste país-vazio, neste país sem bondade nem bruma.
Mas loucura maior foi vê-lo perdido neste país-menino, neste país-vazio, neste país sem bondade nem bruma.
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