Há um ano e meio, antes de vir para a China, surripiei dois livros de Manuel António Pina - Os Livros e Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança - da biblioteca da universidade. Um empréstimo vitalício, digo, que surripiar soa mal. É da Assírio, gosto sempre dos livros da Assírio. O mesmo fiz com Verso de Autografia. Tinha medo que quando voltasse não encontrasse estes livros e, afinal, poucos são os que requisitam livros na biblioteca de letras. Tantos, mas tantos livros ao abandono. E tanto foi o tempo que esperei pelos livros de Rilke - ainda espero - que me pareceu bem trazê-los comigo. Devo ter lido e relido pelo menos dez vezes estes dois livros, são poucos os livros em português na China, encontrei um sobre Giotto, ao acaso, custou-me pouco mais de três euros. Às vezes escrevo alguns dos seus versos no meu diário porque, como disse, são poucos os livros em português. Em Agosto escrevi aquela longa história que vem pouco depois de "Em prosa provalmente", e lembro-me das palavras do poeta, que sempre falou dos seus gatos, mas que desta vez contava a história do cão que fora enforcado pelo seu vizinho. Estava à beira do rio, sózinha desta vez. Ele estava quase a ir embora. Vou sempre ao rio ou ao parque quando quero pensar. Custou-me ler aquelas palavras, aqueles dois livros. Sabes que o inglês e o chinês me são artificias. Agora é Outubro, é o dia do meu aniversário, um ano passou desde que aqui estou, mudei de casa três vezes e não trouxe os livros comigo. Li sobre a morte do poeta. Recebi uma mensagem de parabéns da mãe. Está frio em Pequim. Um ano, um mês e vinte e dois dias sem ir a casa. Acho que ela tem saudades de mim. Às vezes sinto-me culpada por ficar aqui. Mas tenho de esperar por ele um ano. Ou três. Parece sempre que as pessoas só se lembram dos poetas quando eles morrem, não é?
tenho uma prima a dar aulas de portugues numa universidade na China, em Pequim. Chama-se Liliana Gonçalves, se a vires diz olá :)
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