domingo, 20 de fevereiro de 2011

As palavras mordendo a solidão


Estás só, e é de noite, 
na cidade aberta ao vento leste
Há muita coisa que não sabes
e é já tarde para perguntares.
Mas tu já tens palavras que te bastem,
as últimas,
pálidas, pesadas, ó abandonado.
Estás só
e ao teu encontro vem
a grande ponte sobre o rio.
Olhas a água onde passaram barcos,
escura, densa, rumorosa
de lírios ou pássaros nocturnos.

(...)

lembras-te da madressilva
no muro do quintal,
dos medronhos que colhias
e deitavas fora,
dos amigos a quem mandavas
palavras inocentes
que regressavam a sangrar, 

(..)

Estás só.
Desolado e só
E é de noite.

(Eugénio de Andrade, Um rio que te espera)



As palavras são um perigo. Os poemas são um perigo. Ele gosta(va) de Eugénio, eu gosto de Eugénio. Estou com medo de amanhã e de hoje. Hoje não soube a Domingo e os outros dias souberam a nada. 





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