Vi Sísifo a sofrer grandes tormentos,
tentando levantar com as mãos uma pedra monstruosa.
Esforçando-se para empurrar com as mãos e os pés,
conseguia levá-la até ao cume do monte; mas quando ia
a chegar ao ponto mais alto, o peso fazia-a regredir,
e rolava para a planície a pedra sem vergonha.
Ele esforçava-se de novo para a empurrar: dos seus membros
escorria o suor; e poeira da sua cabeça se elevava.
(Homero, Odisseia, Frederico Lourenço (trad.))
Foi então que decidi escrever: "e é no regresso que Sísifo se põe a ter esperança". Mas o regresso é sempre inútil e estéril e sei muito bem que ele não devia ter qualquer esperança. A pedra cai, cai sempre. É então que surge Camus, com aquela ideia de que, apesar de tudo, é preciso imaginar Sísifo feliz. Não creio, mas se ele se põe a ter esperança, porque não?
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