quarta-feira, 24 de novembro de 2010

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Minha amiga, viver é difícil. Já construí teorias morais de sobra para construir mais ainda, e contraditórias: sou demasiado sensato para acreditar que a felicidade apenas se encontra à beira de um erro, e o vício, tal como a virtude, não pode dar a alegria aos que a não têm em si mesmos. Simplesmente, ainda prefiro o erro (se de erro se trata) a uma denegação de nós próprios tão próxima da demência. A vida fez de mim aquilo que sou, prisioneiro (se quisermos) de instintos que não escolhi, mas aos quais me resigno, e este consentimento, assim o espero, sem me trazer felicidade, há-de proporcionar-me serenidade.


(Marguerite Yourcenar, Alexis)



O meu cérebro ressuscitou, finalmente. Depois de vários dias de quase-narcolepsia, regressei às habituais insónias. Daqui a um mês estarei novamente miserável e ninguém vai reparar. As atenções estão direccionadas para a nova criatura da família. Estou, por assim dizer, livre de todas as tentativas de normalização por parte dos meus progenitores. Já posso ser estranha à vontade. Até já me posso sentir infeliz e realmente parecer infeliz. Miserável, digo. No fundo, é para isso que servem as criaturas recém-nascidas. 


Ando aborrecida, tenho sido uma aluna péssima. O mais chato é que posso ser uma aluna excelente. É só uma questão de não me aborrecer. Como quem diz, assobiar menos.

(Ponto)





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