sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Tangerina




EXPERIMENTAVA viver, quase como um exercício. Tinha seios nas mãos e a cara totalmente transformada em ovo. Palpitava-lhe nas têmporas um amor patético pelo mundo, tão ridículo e imenso que lá caberiam, pouco apertados, os outros amores. E dormia acordado, pelo prazer de esbater fronteiras.

Eu tenho raiva à ternura. Eu tenho raiva de ter raiva à ternura. Eu tenho a doença da ternura por ter raiva. Eu tenho tudo excepto a ternura. Eu não tenho ternura e sofro de inveja de quem tem ternura. Eu já só tenho raiva.

(…)


(Manuel Cintra, Tangerina)



Tenho uma obsessão por Tangerinas desde que descobri a Tangerina do Al Berto em À procura do vento num jardim d'agosto e agora aparece esta outra Tangerina. Uma ternura, como diria o senhor embaixador.
Também gosto de pêssegos, porque acho que os gatos se assemelham aos pêssegos e porque o D. H. Lawrence tem um poema chamado Pêssego que é uma delícia. Gosto de pêssegos porque gosto de gatos. Aliás, acredito mesmo que os pêssegos tenham razões muito profundas, mais profundas que esta minha razão pateta de gostar deles só porque gosto de gatos e poemas.





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