quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Cem mil anémonas

E eu não conheço nenhuma. 



Ah, não mais ter a consciência de ser, como uma pedra, como uma planta! Não recordar sequer o nome! Estendidos na erva, com as mãos cruzadas na nuca, olhar no céu azul as nuvens brancas que pairam, deslumbrantes, inchadas de sol; ouvir o vento que soa lá em cima, entre os casntanheiros, do bosque com um fragor de mar. 
Nuvens e vento. 
O que disse? Ai de mim, ai de mim. Nuvens? Vento? E não lhe parece que é tudo, olhar e reconhecer que aquilo que paira no azul interminável e vazio são nuvens? A nuvem sabe porventura que existe? Nem a árvore nem a pedra, que se ignoram até a si mesmas, sabem que a nuvem existe; e estão sós.



(Luigi Pirandello, Um, Ninguém e Cem Mil)


Esta parte lembra-me Caeiro.O resto não. 

Existe sempre o perigo da loucura. Ou de não nos encontrar-mos nunca, porque se o encontro é o início da separação, quando se trata de nós, o desencontro é eterno. E a descoberta nunca se proporciona. 

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