domingo, 5 de dezembro de 2010

Estas coisas estão no futuro

Agora, meu caro amigo, agora, pelos seus pecados, vai padecer o suplício de uma longa carta cheia de palavreado. Digo-lhe claramente que o vou castigar por todas as suas impertinências, por ser tão enfadonho, tão divagador, tão incoerente e tão inadequado quanto é possível. Além disso, eis-me aqui, encafuada num sujo balão, com uma ou duas centenas de passageiros pertencentes à canaille, todos eles em viagem de prazer (que engraçada concepção certas pessoas têm do prazer!), sem expectativas de tocar terra firme pelos menos durante um mês. Ninguém com quem falar. Nada para fazer. Quando a pessoas não tem nada que fazer, está na altura de se corresponder com os amigos. Compreenderá, portanto, por que razão lhe escrevo esta carta: por causa do meu ennui e dos seus pecados.
Ponha os óculos e prepare-se para suportar o aborrecimento. Tenciono escrever-lhe todos os dias durante esta odiosa viagem. 



(Edgar Allan Poe, Mellonta Tauta)

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