Mas passa todo o dia cabisbaixa, cansa-se depressa e amua:
«É aqui», diz ela tocando na garganta, «trago aqui um nó.»
Há avareza na sua maneira de sofrer. Nos seus prazeres deve haver também. Admira-me que esta mulher não tenha vontade, às vezes, de se libertar daquela dor monótona, daquele resmonear que volta a moer, assim que ela de deixa de cantar; que não deseje sofrer por uma vez, afogar-se no desespero. Mas, mesmo que quisesse, não poderia: aquele nó veda-lhe a saída ao sofrimento.
(Jean-Paul Sartre, A Náusea)
Ele tem a náusea nas mãos, Lucie tem o nó. Eu tenho o livro, um livro perigoso. Uma pessoa como eu envolve-se sempre demasiado na leitura. Avizinha-se um mês terrivelmente existencial.
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