quinta-feira, 30 de junho de 2011

Lágrimas e suspiros









Todos os meus filmes podiam ser filmados a preto e branco, menos "Lágrimas e suspiros". No roteiro está mencionado que imagino a cor vemelha como sendo o interior da alma. Quando era criança, via a alma como se fosse a sombra de um dragão, de um cinzento-azulado, pairando sobre nós sob a forma de um ser alado, meio ave meio peixe. Mas tudo dentro desse dragão era vermelho.
A primeira cena surgia em minha mente o tempo todo: um quarto com papel de parede vermelho e mulheres vestidas de branco. Acontece que certas imagens voltam teimosamente ao meu cérebro sem que eu perceba a intenção delas. Depois desaparecem, para voltarem mais uma vez idênticas às anteriores.
Repetidas vezes eu rechaçara esta visão, recusando-me a usá-la como ponto de partida para um filme ou para o que quer que fosse. Mas ela foi teimosa e, contra minha vontade, identifiquei-a; trata-se de três mulheres que esperam o falecimento da quarta. E velam por turnos.
Creio que o filme – ou o que quer que isso seja – se compõe deste poema: Um ser humano deixa esta vida, mas, como num pesadelo, detém-se a meio caminho, pedindo aos que ficam ternura, reconciliação, libertação. Pedindo tudo, tudo. Estão mais duas pessoas presentes, e tanto as acções como os pensamentos delas estão em relação com a morte, a moribunda. A terceira pessoa presente vai redimir a doente, incutindo-lhe paz, acompanhando-a na fase final.

(Ingmar Bergman, Imagens)

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